Em um país tão desigual quanto o nosso, sabemos da importância das Políticas Sociais na vida de milhões de pessoas. Mas o que uma cidade pode fazer a respeito? Como mostramos a seguir, a ação do muncípio é importantíssima na atenção social aos mais vulneráveis.
Leia mais e saiba qual o papel da rede de proteção social no Projeto Municipal de Desenvolvimento do Paulista!
A consolidação das ações sociais como parcela indissociável do fazer político em nosso país tem raiz em nosso processo de redemocratização. Muito embora a sociedade brasileira já possuísse alguns direitos constituídos previamente, foi apenas a partir da Constituição Federal de 1988 que estabeleceu-se de forma categórica as competências do Estado no processo de elaboração e execução de políticas sociais que têm por objetivo a redução das desigualdades.
Foi também a partir da Constituição de 1988 que a participação popular, através dos princípios da democracia participativa e colaborativa – e suas especificidades – passou a ser parâmetro determinante.
A razão de tal esforço inicial em nossa reabertura democrática, derivou da emergência em que se encontrava a sociedade brasileira à época. Apesar do expressivo crescimento econômico oriundo do processo de industrialização massiva que se estabeleceu entre as décadas de 50 e 70, o Brasil era um país majoritariamente pobre.
Paralelamente, a privação da liberdade imposta pela ditadura militar também produziu um aprofundamento das disparidades, por desprezar em absoluto as noções de igualdade e respeito social. O caráter repressivo do Estado e a ausência de um plano para o desenvolvimento social, imprimiram em nosso país um absoluto estado de miséria.
Deste modo, o restabelecimento da democracia em nosso país não poderia ser pensado sem que houvesse um esforço superlativo para a garantia do desenvolvimento social, através de políticas públicas destinada a este fim, norteadas pelo respeito aos direitos humanos e comprometidas com a assistência social e com a soberania popular.
Ao longo dos últimos 40 anos, podemos observar avanços significativos no fortalecimento das políticas sociais. A implementação de programas de absoluto sucesso, a exemplo do Bolsa Família, teve papel distintivo na subversão da compreensão retrógrada da transferência direta de renda como sendo um mero instrumento de cooptação política; gradativamente, tornou-se evidente o impacto positivo desta política em todas as esferas da sociedade.
A partir da transferência de renda, é possível minimizar uma série de danos causados por disfuncionalidades pontuais e históricas como o desemprego, a fome, a moradia, dentre outros.
Contudo, o esforço para atenuar as desigualdades através de programas de transferência de renda não é capaz, por si só, de contemplar todas as particularidades das políticas sociais. Pelo contrário.
Tais programas contemplam apenas uma fração do escopo. Deveras significativa, de fato, mas ainda assim não representa o todo. Podemos afirmar, seguramente, que os mais desafiadores e benéficos avanços no campo das políticas sociais, se encontra na proteção legal do respeito à diversidade e à dignidade humana, premissas sem as quais nenhuma política social pode se tornar possível. Dentre as mais importantes que devemos explanar, destacam-se:
- Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente
- Lei nº 10.741/03 – Estatuto do Idoso
- Lei nº 12.852/13 – Estatuto da Juventude
- Lei 13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência
- Programa de Combate à violência e à discriminação contra LGBT e de promoção da cidadania homossexual – Programa Brasil sem Homofobia
- Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – PNDCDH – LGBT
- Política Nacional de Saúde Integral de LGBTIS
Ademais, devemos reforçar também a importância da política de cotas nas universidades, do combate ao racismo, da luta pela causa indígena, das políticas voltadas para o empoderamento feminino e o fim da violência contra a mulher, do enfrentamento à prática do estupro, da conscientização contra o bullying, dentre outros. A aplicação destes programas e a proteção legal das minorias são de fundamental importância para qualquer estratégia destinada às políticas sociais.
Porém, a atuação do poder público, através da criação e do fortalecimento de instrumentos legais para a defesa das minorias, só produz efeito quando executada em colaboração com a sociedade. A participação popular tem influência direta no sucesso das políticas sociais, pois é por intermédio do povo que elas se transformam em realidade. Em contrapartida, a falta de conscientização e fomento à valorização dos segmentos minoritários têm o poder de pulverizar a boa execução das políticas sociais e agravar as desigualdades.
Hoje estamos vivendo este cenário. Liderados por um presidente que despreza os direitos humanos e reproduz constantemente discursos de ordem preconceituosa, racista, homofóbica e machista, parcelas da sociedade vem se sentindo autorizadas a ignorar os princípios constitucionais do respeito às diferenças, violentando as políticas sociais como um todo.
Nos últimos anos, os índices de violência contra mulheres, jovens, negros, pobres e à comunidade LGBTQIA+ tem aumentado de forma preocupante e isto é um reflexo dessa alteração de valores que prepondera em nosso país.
A sociedade pautada pelos extremos ideológicos é um risco a ser combatido. É preciso equilíbrio, racionalidade e, acima de tudo, respeito. O Brasil possui um arcabouço constitutivo extremamente sólido para garantirmos que nosso povo tenha o seu desenvolvimento assegurado de forma justa e igualitária.
Para tal, devemos lutar para que as minorias em nosso país tenham seu espaço assegurado, conforme indica a lei. Este projeto, em linha com as diretrizes propostas pelo Projeto Nacional de Desenvolvimento do PDT, se compromete com a defesa das minorias e com a aplicação efetiva das Políticas Sociais, como premissa básica da igualdade, da justiça e do desenvolvimento do nosso povo.
Planejamento estratégico das políticas sociais no município do Paulista/PE
Desde a instituição do caráter descentralizador das políticas sociais, no que tange às competências de cada esfera do poder público, o município tem papel central na aplicação de ações voltadas para o bem-estar da sociedade. Entretanto, a consolidação do que dispõe a nossa Carta Magna só foi possível após 16 anos de sua aprovação, em 2004, com a aprovação do Plano Nacional da Assistência Social (PNAS).
O PNAS buscou introduzir um novo modelo para a política, mediante a instituição do Sistema Único de Assistências Social (SUAS).
Foi a partir da formulação do SUAS que foram criadas as bases que possibilitaram a plena aplicação do princípio descentralizador aprovado na Constituição Federal de 88, estabelecendo claramente os princípios e as finalidades da Assistência Social e definindo as diretrizes da gestão compartilhada entre a União, os estados e municípios.
Para a aplicação plena da Assistência Social nos municípios, observam-se os seguintes objetivos preconizados em 2014 pelo extinto Ministério do Desenvolvimento Social:
I – a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente:
a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;
c) a promoção da integração ao mercado de trabalho;
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e
II – a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos;
III – a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais;
IV- participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle de ações em todos os níveis;
V- primazia da responsabilidade do ente político na condução da Política de Assistência Social em cada esfera de governo; e
VI- centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos, tendo como base o território.
Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais visando universalizar a proteção social e atender às contingências sociais.
Assim, através desta breve exposição do arcabouço legal e constitutivo das políticas sociais e a síntese de suas competências destinadas à municipalidade, demonstra-se a necessidade de um compromisso real por parte dos gestores públicos municipais no que concerne às ações destinadas aos cidadãos de maior vulnerabilidade e às minorias sociais.
Paulista/PE é um município que, em virtude de suas características sociodemográficas, carece profundamente de políticas sociais efetivas.
Uma cidade majoritariamente parda e preta, com rendimento médio mensal que a coloca entre a classe C e D e uma população com mais de 25% de jovens entre 15 a 29 anos, Paulista detém em sua composição social características que determinam a necessidade de investimentos profundos em políticas sociais como prerrogativa básica para o seu crescimento.
Muito embora Paulista tenha assegurado, conforme previsto pelo SUAS, a criação de 6 Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e 2 Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), a falta de planejamento estratégico para as políticas sociais no município e a ausência de um projeto para a cidade ao longo dos anos inviabilizam a sua plena eficiência.
Adicionalmente, a falta de entendimento sobre a transversalidade da área e da sua importância para o desenvolvimento local quando pensada em conjunto com os demais segmentos da administração pública, acaba limitando o real potencial das políticas públicas.
A cidade do Paulista carece de um projeto que reforce os avanços já instituídos nacionalmente, sob a ótica do amparo legal, e intensifique as ações voltadas para as políticas públicas através da cooperação entre as secretarias e a ativa participação popular no processo.
Como demonstrado anteriormente, o crescimento do Paulista só é possível através da valorização de sua gente e apenas com políticas sociais responsáveis e estratégicas poderemos promover tamanha mudança.
Este é o objetivo maior a que se propõe o Projeto Municipal de Desenvolvimento: valorizar o povo acima de tudo, a despeito dos desafios que se apresentarem no caminho.
Propostas do PMD
Propostas do Projeto Municipal de Desenvolvimento para as Políticas Sociais
Indissociáveis em um projeto que visa o crescimento através do desenvolvimento humano, as Políticas Sociais são parte importante da construção do PMD.
Para a composição de suas proposições direcionadas ao município de Paulista, o presente projeto buscou segmentar as propostas a seguir nos seguintes grupos de forte relevância no âmbito municipal: direitos humanos e assistência social, mulheres, povos afrodescendentes, LGBTQIA+, juventude, idosos e pessoas com deficiência.
Assim, amparando-se no conteúdo apresentado e em linha com as diretrizes que o norteiam para que possa obter êxito ao longo de um prazo de dez anos, o PMD apresenta as seguintes propostas para as Políticas Sociais:
- Instituir a Política Municipal de Direitos Humanos
- Reestruturar a Política Municipal de Assistência Social
- Fortalecer e ampliar a atuação dos CRAS e CREAS
- Intensificar a atuação do poder público nas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), promovendo programas locais de educação e saúde pública, bem como garantindo o desenvolvimento urbano e econômico e urbano das localidades.
- Implementar o Programa Municipal de Acolhimento para assistir as pessoas em situação de rua
- Criar o Centro de Voluntariado Municipal
- Criar a Política Municipal de Segurança Alimentar
Políticas para as Mulheres
- Fortalecer os espaços de representatividade feminina, como os Fóruns e Conferências das Mulheres, e criar o Conselho de Políticas Públicas paras as Mulheres.
- Criar da Diretoria das Mulheres
- Promover ações que estimulem uma maior participação de mulheres nos espaços de poder
- Ampliar o número de creches e de vagas disponíveis nestes espaços, de modo a garantir às mães solo tempo hábil para exercerem suas atividades profissionais de forma digna.
- Promover ações de qualificação destinadas às mulheres, objetivando garantir a autonomia econômica
- Garantir o cumprimento da lei que assegura os direitos das trabalhadoras domésticas
- Intensificar ações de fomento à igualdade de salários entre homens e mulheres
- Fortalecer o enfrentamento à práticas discriminatórias institucionais de empregadores contra as mulheres
- Assegurar a proteção às mulheres, na garantia dos seus direitos em combinar a gravidez, amamentação e criação dos filhos com a participação em atividades profissionais
- Excluir o uso de material de ensino que reforça o papel estereotipado da mulher
- Combater a evasão escolar de adolescentes grávidas
- Implementar políticas públicas de combate a todo tipo de violência e assédio contra a mulher, bem como assegurar, através de programas municipais, a devida assistência às vítimas desse tipo de crime.
Políticas para os povos Afrodescendentes
- Criar a Diretoria de Promoção da Igualdade Racial
- Promover ações no âmbito da Ordem Pública que atue no combate à violência policial, preservando a vida e a cidadania da juventude negra
- Fornecer material escolar adequado e ampliar o acervo das bibliotecas para incentivar a formação correta e não preconceituosa sobre os grupos étnicos historicamente discriminados.
- Incluir Paulista no conjunto das cidades que aderiram ao Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial
- Promover ações educativas nas mídias que fomentem a diversidade racial
- Inclusão da questão da diversidade cultural e religiosa desde a infância, valorizando a história e cultura das diversas etnias africanas
- Estimular o intercâmbio cultural entre as comunidades remanescentes de quilombos existentes no município
- Garantir recursos para projetos sociais que resgatem a cultura negra em todas as suas expressões populares e/ou artísticas
- Instituir Fóruns, Conferências e o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial
- Otimizar os processos de titularização das áreas das populações remanescentes de quilombos, promovendo programas locais de educação e saúde pública, bem como garantindo o desenvolvimento urbano e econômico e urbano das localidades.
Políticas para a população LGBTQIA+
- Criar a Diretoria de Políticas Públicas para a Cidadania da população LGBTQIA+
- Combater a discriminação institucional no ambiente de trabalho com a comunidade LGBTQIA+
- Criar um plano de medidas para reduzir a discriminação nas escolas do município
- Inserir Paulista no conjunto das cidades que aderiram ao Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBTQIA+
- Promover ações educativas nas mídias que fomentem o respeito à diversidade sexual
- Ampliar os serviços de saúde pública destinados a atender as necessidades especiais da população LGBTQIA+, bem como garantir o acolhimento dessa população na terceira idade
- Inserir no Plano Municipal de Educação o constante enfrentamento a toda forma de preconceito, seja por raça, etnia, sexo, identidade de gênero e/ou orientação sexual.
- Criar políticas públicas protetivas e de acolhimento à população LGBTI+ em posição de vulnerabilidade: LGBTI+ em situação de rua, negras e negros, conviventes com HIV/AIDS, dentre outros.
- Instituir Fóruns, Conferências e o Conselho Municipal de Políticas Públicas para a cidadania da população LGBTQIA+
Política para a Juventude
- Implementar a Política Municipal de Juventude
- Realizar a Conferência e os Fóruns Municipais de Juventude
- Criar o Conselho Municipal de Juventude
- Fortalecer o aprendizado profissionalizante, como forma de inserir os jovens no mercado de trabalho
- Estimular os empreendimentos e coletivos da juventude na pesca artesanal, agricultura familiar e demais atividades produtivas, propiciando a sensibilização acerca da economia solidária
- Revitalizar e criar novos espaços de lazer que promovam a integração entre os jovens e a inclusão social
- Executar políticas públicas em consonância plena com o Estatuto da Juventude e o Estatuto da Criança e do Adolescente
- Instituir programa de inserção do jovem no mercado de trabalho, como forma de combater o desemprego e o subemprego na cidade de Paulista
- Criar o Festival da Juventude da cidade de Paulista, a ser incluído no calendário municipal de atividades culturais e esportivas.
Política para a Terceira Idade
- Implementar os Centros de Convivência do Idoso
- Consolidar convênios de estímulo à formação dos idosos, através do programa “Universidade da Terceira Idade”
- Adotar políticas de saúde pública voltadas para a terceira idade, como forma de obter da OMS o título de “Cidade Amiga do Idoso”
Políticas para as Pessoas com Deficiência
- Promover a inclusão social das pessoas com deficiência através da criação de um programa de interação e inclusão das pessoas com deficiência e pessoas com mobilidade reduzida.
- Centro de referência e reabilitação e suporte para pessoas com deficiência, com políticas integradas com as demais secretarias.
- Centro de referência para crianças com deficiência.
- Criar o Projeto “Cidade em Braile”
- Criar a Política Municipal de Acessibilidade