Após 14 meses e uma série de polêmicas, o economista Abraham Weintraub deixou a chefia do Ministério da Educação (MEC) nesta quinta-feira (18). A saída se deu por decisão do presidente Jair Bolsonaro, após incisiva pressão do Supremo Tribunal Federal que exigia, desde o início da semana, a sua imediata demissão.
A pressão dos membros do STF pela saída do ex-ministro teve início após a divulgação do vídeo de uma reunião ministerial realizada no dia 22 de Abril. No encontro, Weintraub pedia a prisão dos ministros, chamando-os de “vagabundos”. Porém, o clima de tensão envolvendo o ex-ministro agravou-se no último domingo (14), após ele ter participado de uma manifestação de apoio ao presidente, em Brasília. No ato, Weintraub apareceu sem máscara, contrariando as determinações do governador do Distrito Federal, gerou aglomeração e repetiu aos seus apoiadores os mesmo insultos que havia feito na reunião ministerial, direcionados ao STF.
A demissão de Weintraub, contudo, tem razões políticas. Após uma série de embates entre o presidente Jair Bolsonaro e os membros da suprema corte, especialmente com o ministro Alexandre de Moraes, em decorrência do inquérito comandado pela instituição para apuração de crimes envolvendo Fake News, a saída do economista pode representar uma tentativa de trégua por parte do presidente. Weintraub também é considerado um dos suspeitos nas investigações deste inquérito.
Um ministro sem educação
Apoiado fortemente pelo núcleo mais radical de apoiadores do presidente, Weintraub, contudo, não conta com este apoio por parte da maioria da população. Seus 14 meses de gestão à frente do MEC foram marcados por críticas e contradições, com uma marca central: o descompromisso com a educação. Contingenciamento de verbas para as universidades federais, paralisia completa da pasta – sem quaisquer planos ou metas -, graves erros de organização no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), são apenas algumas das deturpações promovidas por Weintraub no comando da educação nacional.
Como se não fosse o suficiente, uma das principais características do ex-ministro sempre foi a sua comunicação. Conhecido por proferir insultos indecorosos nas redes sociais aos que teciam críticas à sua gestão, Weintraub chegou a incitar uma crise diplomática entre o Brasil e o seu maior parceiro comercial: a China. Através do Twitter, publicou uma mensagem onde satirizava pejorativamente o sotaque dos chineses e propunha que o país houvera iniciado propositalmente a pandemia do coronavírus. É válido ressaltar que esta narrativa falaciosa é bastante difundida entre seus apoiadores. Não satisfeito com todos os desmandes e retrocessos que promoveu, nesta semana, o ministro da Educação revogou a portaria de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência nos cursos de pós-graduação.
A conjunção dessas polêmicas vinha causando indignação para boa parte da população, ao ponto de autoridades públicas se pronunciarem a respeito das atitudes de Weintraub. O atual presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, chegou a falar incisivamente contra o ex-ministro. “O ministro da Educação atrapalha o Brasil, atrapalha o futuro das nossas crianças, está comprometendo o futuro de muitas gerações”, disse o deputado.
Com o agravamento da crise, ao se indispor com o judiciário federal, não havia mais saída. No início da semana, quando questionado pela imprensa sobre a participação de Weintraub na manifestação do último domingo, o presidente Jair Bolsonaro disse que ele não havia sido “prudente” e que estava tentando solucionar o caso. Estava posto. A partir desta declaração, a saída de Weintraub era questão de dias ou horas. Por fim, na tarde desta quinta-feira, em vídeo divulgado nas redes sociais, Abraham Weintraub – ao lado de Bolsonaro – anunciou a sua saída. O discurso desta vez não foi improvisado e Weintraub fez todo o anúncio através da leitura de um texto escrito. Bolsonaro pouco falou. Disse apenas que era um “momento difícil” e que “a confiança você não compra, você adquire”.
No vídeo, Weintraub anunciou que participará da transição do cargo e, como de costume entre os funcionários de confiança do presidente, receberá uma nova função a exercer: será nomeado como um dos diretores do Banco Mundial.
Weintraub sai, quem entra?
Ainda não há definição sobre quem assumirá a pasta. O nome mais cotado é o do atual Secretário de Alfabetização do MEC, o professor Carlos Nadalim. Defensor da educação domiciliar, adepto das ideias do guru bolsonarista Olavo de Carvalho e um forte opositor das teorias de Paulo Freire – patrono da educação brasileira e um dos pensadores mais respeitados a nível internacional -, Nadalim é a principal escolha de Weintraub e deverá assumir a pasta, ao menos interinamente.
Outros nomes são levantados no âmbito da esfera bolsonarista, como o da atual secretária do Ensino Básico, Ilona Becskeházi e do capitão-de-fragata Eduardo Melo. Porém não há nenhum posicionamento oficial acerca da nomeação de ambos. Por ora, a chefia do Ministério da Educação permanece indefinida.