A última semana foi marcada pelas discussões acerca da juventude em consequência do Dia Nacional da Juventude comemorado no dia 12 de agosto. Para aproveitar o fôlego dado ao tema, o pré-candidato a prefeito de Paulista/PE, vereador Fábio Barros, convidou jovens paulistenses para discutir, no seu canal do Youtube, as dificuldades e a realidade enfrentada por esse segmento social na cidade e pensar estratégias e políticas públicas a partir disso.
A discussão contou com a participação do presidente da Juventude Socialista do PDT em Paulista, Matheus Barros; da educadora social e especialista em Direitos Humanos Jully Neves; da pedagoga e especialista em Gestão e Coordenação Pedagógica no Ensino Integral Sulamita Nascimento; do estudante de administração Aldemar Cezário; e do professor de História Diogo Xavier.
Partindo de lugares e pontos de vista distintos, os convidados e convidadas puderam construir um panorama da situação da juventude no município, apontando carências e potencialidades presentes. Com essas informações, os próprios jovens sugeriram ações e políticas públicas que podem ser pensadas para a garantia dos direitos fundamentais desse público e a melhoria de vida da população como um todo.
“A semana da juventude é importante para simbolizar que nós precisamos parar para refletir sobre a falta de oportunidade do jovem dizer sempre o que pensa. A gente aqui se preocupou em querer ouví-los porque aquele que vive a realidade tem muito mais condições de dizer o caminho para sair das dificuldades que a realidade apresenta”, explicou Fábio sobre a iniciativa.
Juventude e empregabilidade em Paulista/PE
Quando se pensa em juventude, é comum pensar logo no primeiro emprego, sobre a entrada no mercado de trabalho. A fase de início da vida adulta apresenta esse desafio comum cheio de anseios e obstáculos para os jovens. Não à toa esse foi o primeiro tema tratado na discussão: qual a situação do emprego para o jovem de Paulista/PE?
Problema da centralidade urbana
Primeiro, a cidade tem uma característica importante que precisa ser levada em consideração para pensar o emprego. Apesar do crescimento considerável nos últimos anos, Paulista/PE ainda é considerada uma “cidade-dormitório”, o que quer dizer que a maioria da população paulistense não trabalha na cidade, se desloca para outro município da Região Metropolitana, geralmente Recife, para realizar as atividades laborais.
A questão foi apontada logo pelo professor de História Diogo Xavier a partir de vivência pessoal. “As nossas cidades são pensadas para que as pessoas trabalhem nos grandes centros e voltem, como é o caso de Paulista. Nossa cidade não é uma cidade em que os moradores trabalham nela. Eu mesmo só trabalhei em paulista uma vez, todo o resto da minha vida de trabalho foi sempre em recife e até outras cidades, como Olinda”, disse.
A realidade também é apontada por Jully, que vê no conjunto da educação e investimento a saída para a empregabilidade no município. “Duas coisas que precisam andar em conjunto: investimento em educação e em economia, o que está incentivando a nossa juventude para trabalhar aqui? A gente precisa de um núcleo que fale sobre empregabilidade em Paulista/PE para que o jovem possa se capacitar”, falou.
Com uma população jovem de mais de 50 mil pessoas em idade ativa para o trabalho, a cidade tem hoje como principal estrutura de emprego as áreas de comércio e serviços, onde a maior parte da população se encontra empregada. O pré-candidato a prefeito de Paulista/PE aponta áreas que poderiam criar oportunidades, mas que não recebem a devida atenção.
“Paulista não pode ser uma cidade dormitório, é preciso avançar. A cidade tem hoje como principal estrutura de emprego uma vocação para o comércio e serviços, mas, para crescer, a gente precisa lembrar que tem turismo, que está sendo negligenciado pelo poder público. Nós estamos perdendo a oportunidade de desenvolvimento das cooperativas de trabalho, que poderiam estar agregando muita gente em frentes de trabalho”, explicou Fábio.
Tarifa de ônibus
Mesmo quando o jovem paulistense consegue um emprego em outra cidade da RMR, ele ainda enfrenta outro desafio: a passagem de ônibus. Paulista/PE tem a maior tarifa do norte e nordeste entre as regiões metropolitanas, fator que já se mostrou impeditivo no processo seletivo de trabalho, já que as empresas custeiam o valor do transporte.
“Uma questão que exclui todos os jovens de paulista para uma oportunidade de emprego é a nossa tarifa B, que é 4,70. Isso nos exclui de qualquer tipo de oportunidade de emprego fora de Paulista, onde a tarifa é A. Isso eu digo por experiência própria, certa vez eu perdi uma oportunidade de emprego por causa da nossa tarifa”, conta Aldemar.
O problema da passagem de ônibus para os moradores de Paulista/PE é uma pauta levantada de forma recorrente por Fábio Barros. “Sempre digo que a população de Paulista é penalizada com uma tarifa de 4,70 sem que haja uma razão técnica. Isso afeta o trabalhador jovem que não consegue um emprego na cidade metropolitana, interferindo diretamente na vida desse jovem. É preciso dar solução a isso”, apontou.
Plano Municipal para a Juventude
A urgência em uma solução apontada por Fábio ficou evidente no decorrer da discussão, que direcionou possíveis caminhos a serem seguidos a partir da construção de um plano municipal que envolva a juventude. A falta de escuta e de interesse da atual gestão municipal com os jovens foi uma questão reiterada nos depoimentos.
“Não adianta só a gente apontar as problemáticas de toda essa questão, é preciso a gente propor e construir. Eu hoje estou estudando e não conheço nada na cidade de paulista que seja totalmente voltado e continuado para a juventude. Então primeiro a gente precisa mostrar o que a gente tem de propostas para a juventude, além de colocar na prática”. disse Matheus.
A problemática aparece também na perspectiva do professor Diogo. “De fato nós não temos uma política para a juventude que pense a cidade e consiga observar os jovens desde a mais tenra idade. Quando a gente pensa numa política pública voltada para a juventude, a gente precisa entender que os jovens estão muito preparados para discutir e pensar essas questões”, opinou.
O preparo desse grupo para a apresentação de problemas e sugestão de propostas fica evidente na desenvoltura dos próprios convidados da live. Sulamita, por exemplo, apontou a formação e qualificação profissional para o jovem como essencial para a entrada no mercado de trabalho e fortalecimento da economia do município.
“A gestão precisa dar a oportunidade de qualificação enquanto profissão técnica, bolsas de estudo, cursos com o valor mais acessível ou gratuitos para que o jovem consiga correr atrás de uma oportunidade. Integrar esse jovem é fundamental para fortalecer a cidade de paulista e para que eles possam crescer juntos porque o jovem tem muita coisa a agregar”, defendeu.
Além da participação na construção das próprias políticas voltadas para a juventude, o envolvimento dos jovens é essencial também no olhar para as outras áreas da cidade, como a saúde, mobilidade e segurança. Essa participação intensa da sociedade como um todo é defendida por Fábio Barros como essencial a construção de um plano de governo democrático.
“Os jovens protagonistas deveriam estar inseridos em todas as áreas, em todas as secretarias, senão você vai ter uma partição da política que não é interessante. A juventude precisa estar em espaços de poder, seja na Câmara dos Vereadores, como vereador ou como secretários, na verdade, a gente precisa ter jovens preparados politicamente, mas também tecnicamente para estar em todas as áreas”, disse o pré-candidato.
Participação do jovem na política
A faixa etária dos jovens representa apenas 5,4% das candidaturas das eleições de 2018, segundo estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na última disputa municipal, esse grupo apresenta uma participação levemente superior, 8,87%, mas ainda pouco expressiva diante do cenário de outros grupos etários. O grupo de 45 a 49 anos, por exemplo, é o que predomina com 15,56%.
Essa questão foi abordada na finalização da conversa com os jovens: afinal, qual a importância da participação da juventude na política? Cada um trouxe uma visão do que significa participar politicamente na sociedade, de que forma isso pode contribuir para a melhoria da sociedade e para mudanças reais no presente e no futuro de Paulista/PE.
“Entendo que não adianta a gente só reclamar, a gente também tem que agir e participar, obviamente que essa participação vai acontecer conforme as nossas disponibilidades. Mas podemos sim de alguma forma fazer algo pela nossa cidade, fazer diferente começa também na política, dentro dos nossos bairros, associações, são diversas ações que a gente pode escolher para que a gente não deixe de agir”, respondeu Jully.
“Acho que debater é a primeira coisa que se deve fazer para que a gente possa pensar politicamente a nossa cidade, nosso estado, nosso país e o mundo todo. Precisamos sim enquanto jovens entender a transformação e pensar em ser a transformação e sobretudo, que a gente possa conseguir mudar, primeiro o nosso bairro e a partir daí a gente consegue mudar muita coisa”, declarou Diogo.
“Espero que os jovens a partir da live se sintam motivados a serem participativos, a dialogar, trazer ideias, que possamos agregar sempre e que possamos crescer juntos também. Eu acredito que o futuro está aí, está em nossas mãos e que podemos sim melhorar”, falou Sulamita.
“Espero que nas próximas gestões da cidade, o gestor pense na juventude e na realização dos nossos pensamentos e que esses pensamentos se transformem em ações efetivas e que tragam melhorias para a sociedade” afirmou Aldemar
“O que significa a participação da juventude na política? Eu acho que é a juventude tomar o destino dela nas próprias mãos, como dizia Brizola. Então é necessário que a gente se coloque nessas situações, nessas lutas, sabemos que não é fácil, mas é possível porque a gente é parte da sociedade, a gente vive a cidade de forma real”, disse Matheus.
Por fim, Fábio reforçou a importância da construção coletiva de cidade junto aos jovens. Na visão dele, a juventude precisa influenciar em todas as políticas públicas porque trazem um olhar diferenciado sobre as questões, trazendo propostas reais de transformação para a sociedade e para Paulista/PE de forma mais específica.
“Nós estamos carentes disso e a juventude precisa estar nos espaços democráticos, participativos, populares, como qualquer outro integrante da sociedade”, finalizou.