Pandemia dificulta vivência do luto e suporte às famílias em meio à dor da perda

Três meses desde o início da quarentena em Paulista/PE, com centenas de vidas já foram impactadas direta e indiretamente pela pandemia localmente. Muitas pessoas perderam empregos, mudaram rotinas e cancelaram compromissos. Cada dor tem um peso para aquele que a carrega, no entanto, o fim de uma vida será sempre o centro do luto para uma comunidade de pessoas.

Cento e setenta e nove paulistenses tiveram as vidas encerradas pelo coronavírus, segundo o balanço da Secretaria de Saúde do município na última quarta-feira (17). Cento e setenta e histórias foram interrompidas, outro tanto de sonhos foram impossibilitados de serem concretizados com o desfecho determinado pela doença.

Em Pernambuco, o total já passa de quatro mil pessoas, 4.009, de acordo com o levantamento do Governo do Estado na mesma data. A percepção dos números, que continuam sendo contabilizados todos os dias, embora importante, não consegue mensurar a grandeza do luto e as consequências da perda para quem permanece, principalmente, familiares e amigos.

Pessoas afetadas pelas mortes

Especialistas estimam que cada morte, motivada por uma epidemia como essa, impacta diretamente a saúde mental de seis a dez pessoas. É verdade que pessoas lidam com a morte todos os dias desde os primórdios da humanidade, mas, as dimensões de uma pandemia dessa gravidade impõem novos desafios a esse enfrentamento.

O contato com a pessoa é impossibilitado desde a confirmação da doença. Em casos mais graves, são isoladas em áreas restritas dos hospitais, sem o acompanhamento da família. Com a morte, o isolamento permanece, caixões precisam ser lacrados e a despedida já não é mais a mesma.

Os velórios e funerais, conhecidos ritos de adeus da nossa cultura, não são recomendados pelo protocolo do Ministério da Saúde. Caso mesmo assim sejam realizados, devem ocorrer com no máximo dez pessoas e respeitar a distância de dois metros entre elas.

O abraço, oferecido como apoio em situações como essa, já não é uma prática estimulada devido o risco de transmissão do vírus. Todos os processos que conhecemos e estamos acostumados em relação também à morte foram alterados.

Formas de apoio e despedida

“Na pandemia, temos o processo de luto sofrendo atravessamentos, com desdobramentos que potencializam o risco de agravar os sofrimentos psíquicos individuais e coletivos”. É o que dizem os pesquisadores de Atenção Psicossocial e Saúde Mental do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES) da Fiocruz, na cartilha “Processo de luto no contexto da Covid-19.

É por isso que, mesmo diante das dificuldades de se oferecer suporte em meio a um processo epidêmico dessa gravidade, é preciso pensar em estratégias para se estar presente também na distância. A cartilha incentiva a lembrança e a homenagem à pessoa que se foi por meio de formas alternativas de despedida.

Eventos virtuais podem, por exemplo, reunir familiares e amigos, além de possibilitar a realização de memoriais e manifestações religiosas também por este meio. As homenagens também podem ser feitas de forma escrita em cartas ou mensagens eletrônicas, ou ainda pela reunião de vídeos e fotos da pessoa junto a entes queridos.

O apoio às pessoas que enfrentam o processo de luto é de extrema importância. Familiares e amigos precisam estar atentos às pessoas próximas para identificar caso estejam encontrando dificuldade em lidar com a situação. É possível buscar ajuda junto a profissionais de atenção psicossocial, líderes comunitários, religiosos, ou mesmo outras pessoas próximas.