Mobilidade Urbana e os desafios dos transportes em Paulista/PE

Como as pessoas se locomovem nas cidades? E numa grande cidade a exemplo de Paulista/PE, com cerca de 330 mil habitantes? Pode-se esperar múltiplas realidades diante de um público também heterogêneo. Fatores como necessidades de mobilidade e classe social influenciam nessas formas.

A complexidade que envolve a mobilidade urbana na cidade de Paulista/PE é pauta constante do pré-candidato a prefeito do município Fábio Barros. A mais recente ocasião de discussão sobre o assunto se deu em uma transmissão ao vivo que realizou no seu perfil do Instagram na última quarta-feira (10).

O pré-candidato defende a construção de um plano de mobilidade urbano integrado para a cidade, a regulamentação dos transportes que atuam no município, além da remodelação do sistema de transporte público municipal.

Na live em questão não foi diferente, Fábio começou apontando os principais problemas que a população enfrenta em relação à infraestrutura para a mobilidade urbana.

Quais as dificuldades enfrentadas em Paulista/PE?

Parte considerável da população se locomove de um ponto a outro da cidade andando. Muitas dessas pessoas optam por essa forma de mobilidade por não poderem arcar com os custos envolvidos nos outros meios, como o transporte público municipal.

Cerca de 30% da população urbana não usa o transporte público em distâncias médias por falta de dinheiro. Para além das questões que envolvem o custo desse transporte, o problema envolve também a falta de estrutura das ruas e calçadas, que não estão aptas a receber os pedestres.

A cidade de Paulista/PE, como é o caso de muitas outras cidades do Brasil, é voltada para o automóvel. “A situação de calçadas esburacadas, ruas sem calçadas, o centro da cidade sem um plano que atende o pedestre sem calçadas adequadas, mostra a realidade de desprezo pelo pedestre”, fala Fábio.

“As condições de deslocamento na cidade precisam ser asseguradas, o pedestre precisa ser priorizado nesse sistema. Faz parte do direito à cidade a possibilidade de vivê-la dessa forma”, completa.

Além da negligência em relação aos pedestres, as necessidades dos ciclistas também não são atendidas no município. A cidade não dispõe da estrutura adequada para as pessoas que precisam ou escolhem se deslocar por meio do modal bicicleta.

“Durante oito anos da gestão atual, não foram feitas nenhuma ciclovia e nenhuma ciclofaixa em Paulista/PE. O Poder Público municipal não tem interesse em desenvolver políticas com esse objetivo”, disse Fábio.

Diante de um projeto que prioriza e supervaloriza os transportes automotores, os ciclistas estão constantemente em risco. Os aparelhos das ciclovias e ciclofaixas funcionam em linhas gerais para garantir essa proteção, apesar de apresentarem diferenças entre si.

Enquanto as ciclovias são espaços a parte das vias públicas, que separam por uma barreira física os ciclistas e motoristas; as ciclofaixas estão na via pública e possuem apenas sinalização demarcando o espaço.

“Não tem nada para os pedestres, nada para os ciclistas, nenhum avanço em calçadas para os bairros, nenhuma via estruturada. Nada. Precisamos de um plano para organizar tudo isso, alterar as vias para que existam esses espaços”, analisou.

Como funciona um plano de mobilidade?

O plano enfatizado por Fábio trata-se do Plano de Mobilidade Urbana. Regulado pela lei federal 12.587/2012, o projeto estabelece que municípios com população acima de 20 mil habitantes devem ter um planejamento específico e próprio para a mobilidade.

Quebrando vários prazos para a implementação, Paulista/PE segue sem um plano, o que afeta diretamente a locomoção de todas as pessoas, impactando também em outros direitos, como o acesso à saúde e à educação, por exemplo.

É por isso que, segundo Fábio, é essencial a participação da sociedade no desenvolvimento do projeto, para que sejam ouvidas as reivindicações e entender assim, qual a cidade que a população deseja.

“Na construção do plano, não cabe ao gestor deliberar, é preciso a colaboração de toda a população. Todos enxergam os problemas, então, todos podem ajudar a desenhar um modelo que atenda todo mundo, que seja pensado para o pedestre, para o ciclista, para o transporte de carga e o de pessoas”, explicou.

O plano de mobilidade urbana direciona onde devem ficar as calçadas, as ciclovias e ciclofaixas, como as vias e os modais se interligam para garantir melhor qualidade de vida para as pessoas. Define também como deve funcionar o transporte público da cidade.

Antes disso, Fábio acredita que a mobilidade urbana passa primeiro pela organização dos transportes que operam na cidade. Ele usa o exemplo da regulamentação do transporte escolar para explicar essa necessidade urgente.

“Nós percebemos que existia esse trabalho já em Paulista e a partir do diálogo com os transportadores escolares, por meio do sindicato, nos organizamos para regulamentar e legislar sobre isso. Os trabalhadores não eram reconhecidos pelo município”, disse.

“Após a regulamentação do trabalho, os transportadores passaram a operar de forma adequada, com os veículos adequados para garantir a segurança das crianças e adolescentes. Além disso, tiveram benefícios e direitos assegurados a partir da legislação”, completou.

E o problema do transporte municipal?

A regulação explicada anteriormente, foi também, de acordo com Fábio, uma tentativa de mostrar à sociedade que é possível dar ordem aos transportes, organizar da melhor forma, como poderia ser feito também com o transporte municipal, esquecido pela gestão pública.

O transporte municipal feito na cidade atualmente é o mesma que funciona há 50 anos, que é o transporte por meio das kombis. O sistema transporta um milhão e 300 mil passageiros por mês, em 14 linhas, que contam com o total de 430 kombis.

Para Fábio, as kombis sempre cumpriram um papel importante na cidade. “Sem plano de mobilidade e transporte público municipal adequado; e com as passagens caras do Grande Recife, as kombis atendem uma demanda importante. Aliás, são elas que garantem o deslocamento dentro do município”, disse.

O Sistema Metropolitano quis ocupar as praias da cidade com os ônibus do Grande Recife. A ideia era direcionar as kombis para o restante da cidade e começar a atender essa área, que tem cerca de 100 mil pessoas. No entanto, a atuação da empresa no município não é um indicativo de boas mudanças para a população.

“O sistema de transporte metropolitano lotado, inseguro, desqualificado, caro, quem disse que ele é exemplo para aplicar em algum lugar e ter certeza que trará resultados? Fora que a tributação pela tarifa não fica em Paulista, vai para o Grande Recife”, apontou.

A solução, segundo ele, está na remodelação do sistema municipal. A troca do modal; o apoio e a preparação dos kombeiros para um sistema de transporte integrado; e a garantia de financiamento público com taxas especiais para aquisição de micro ônibus; são algumas das medidas que devem melhorar o funcionamento.

“Paulista tem forte potencial e pode ter o melhor sistema de transporte público municipal e terá. Deve começar pelo plano de mobilidade, pelos estudos que prevê a legislação para preparar um sistema público municipal e a partir disso garantir uma qualidade de vida que hoje não temos”, fala.

Para finalizar, Fábio enfatiza o potencial da cidade, que é na sua grande maioria plana e, onde a maioria dos bairros são distantes no máximo 15 km do centro da cidade.

“Nós temos um potencial muito grande para ciclovias, ciclofaixas, terminais integrados de micro ônibus, para garantir para as pessoas um transporte de qualidade e principalmente, atender a população e ter respeito por quem hoje trabalha no sistema”, conclui.