Dia Mundial da Conscientização do Autismo

02 de Abril Dia Mundial da Conscientização do Autismo

Muitas pessoas já devem ter notado o símbolo de uma fita colorida em espaços prioritários como filas e vagas de estacionamentos, mas não sabem bem o que significa.

Trata-se do símbolo da conscientização do autismo, TEA (transtorno do espectro do autismo), um comprometimento crônico neurobiológico do desenvolvimento, que repercute na função social desta pessoa, dificultando sua melhor socialização e comunicação.

Em muitos casos acompanha interesse limitado, hiperfoco e movimentos repetitivo. Importante dizer que o autismo é antes de tudo um modo particular de ser, se expressar e reagir.

Tratado com preconceito, é necessário esclarecer que este transtorno não tem nada a ver com renda, cor de pele, educação ou estilo de vida, não aumenta com a idade e, apesar de não ter cura, é possível obter grandes avanços para o desenvolvimento pessoal do portador, desde que haja um tratamento adequado.

Muitas pessoas com destaque no mundo tem autismo, como Bill Gates ou Michel Phelps o grande recordista da natação, o que demonstra que esta particularidade pode se transformar em uma grande habilidade.

As causas do autismo são desconhecidas, especula-se que pode ter origem genética ou acontecer por alguma alteração na gestação ou durante um parto prolongado, mas, na verdade, nada disso é conclusivo.

Há também uma percepção de que sua incidência esteja aumentando, mas isso também pode ser devido ao conhecimento do transtorno e a conscientização da sua existência, até pouco tempo ignorada.

O TEA, possui uma infinidade de variações comportamentais, com severos comprometimentos perceptivos, até discretas inibições no convívio. Muitas crianças que antes eram consideradas apenas tímidas, hoje com o adequado diagnostico podem ser identificadas com autismo e auxiliadas.

A percepção da ocorrência do autismo deixou de ser apenas para casos severos e incluiu uma variedade de contextos. Esse entendimento pode explicar melhor o motivo do aumento nas estatísticas dos casos.

O mais importante é que a família, ao perceber algum atraso no desenvolvimento da criança ou comportamentos diferentes do esperado, busque auxílio profissional.

O diagnóstico é realizado por um psiquiatra ou neurologista, em concordância, muitas vezes, com uma equipe multiprofissional, envolvendo psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, etc. Também não é necessário esperar determinadas idades para se fazer o diagnóstico.

Como se vê, o autismo tem tratamento e a criança ou jovem pode ter uma grande melhora em seu desenvolvimento global, superando muitos obstáculos e tendo melhor qualidade de vida.
Assim, um diagnóstico precoce leva a um tratamento mais eficaz e com resultados mais rápidos. Mas para isso acontecer, é necessário que haja uma grande rede de apoio, suportada, principalmente, pelo poder público, já que o tratamento na maioria dos casos não é acessível às famílias.

Aqui chamo a atenção para dois aspectos importantes e que tem a ver com a necessidade de construção de uma política pública eficaz para o autista e sua família.

A primeira é o ambiente escolar, pois é lá que as crianças e jovens passam a maior parte do tempo e onde acontecem a convivência e as interações sociais do dia a dia. Isso quer dizer que a escola é um lugar importante, não só para o aprendizado formal, mas para a prática das intervenções necessárias, que implicam nas adaptações dos conteúdos abordados e na inclusão relacional da pessoa com TEA.

Para isto é necessária capacitação dos professores para auxiliar o desenvolvimento deste aluno, assim como auxiliares de sala, para melhor manejo deste. Importante entender que o autista não é limitado para aprender, o que muda é a forma de ensinar.

O outro aspecto importante é o ambiente familiar, pois é necessário que o tratamento que ocorre nos centros especializados continue dentro de casa, sendo conduzido pelos pais.

Essa dedicação por vezes é exaustiva e que acaba sobrecarregando os responsáveis e desgastando as relações da própria família.

Isso se torna ainda mais problemático nos casos em a família é chefiada pela mãe, que sozinha tenta prover o sustento ainda se dedicar ao trabalhoso cuidado com o filho portador. É para este público que o município ou o estado devem ter o papel ainda maior de amparo.

Infelizmente, um assunto tão sério não encontra interesse por parte de um grande número de gestores estaduais e nas prefeituras do Brasil, que ignoram a necessidade de se implantar avanços no diagnósticos e no tratamento e apoio familiar das pessoas com autismo, que hoje são investimentos tímidos ou ausentes e se limitam a descontos em cinemas, na compra de veículos e prioridades em filas e estacionamentos.

Lembro que Lei Federal 12.764 de 27 de dezembro de 2012, que instituiu a Política Nacional de proteção dos Direitos da pessoa com autismo está completando uma década e mais do que nunca se faz necessário por em prática suas diretrizes.

Em Paulista, no mandato de vereador promovemos debates e discutimos formas de melhoria da vida, com o intuito de promover uma política municipal.

Na época dezenas de mães, membros de associações, secretários municipais e professores de educação especial participaram de nossas audiências na Câmara dos Vereadores. Era o início de uma construção, entretanto, não vimos ações solidas e integradas dessas políticas em nosso município.

Esse assunto, em qualquer gestão pública deve ser tratado com humanidade e empatia, e desenvolvido não só com ações isoladas, mas dentro de uma política pública integrada e efetiva, construída pela experiência e pelo debate de quem tem ou convive com o transtorno do espectro do autismo.