As dificuldades enfrentadas pelos estudantes durante a pandemia são tema de discussão no Dia do Estudante celebrado nesta terça-feira (11). O fechamento das escolas em meados de março, como medida de prevenção ao novo coronavírus imposta pelos estados e municípios, paralisou as aulas de 47,8 milhões de estudantes no Brasil inicialmente. Seis meses depois, o rumo dos alunos continua incerto, principalmente os da rede pública.
O atraso no calendário escolar é apenas uma das consequências. A crise provocada na educação tem impacto de diversas formas na sociedade, diz o pré-candidato a prefeito de Paulista/PE Fábio Barros. “Os estudantes se sentem desamparados, sem perspectiva, muitos não tem condições de continuar estudando em casa por conta própria. Outros podem nem voltar pra escola quando normalizar, como apontam especialistas”, explicou.
A falta de perspectiva e direcionamento atinge toda a comunidade escolar. Das secretarias de educação ao corpo docente, a infraestrutura precária oferecida ainda em muitas redes públicas no país não favorece a busca e implementação de soluções. Assim como para as medidas relativas à saúde, na contenção do vírus, o governo federal não colaborou de forma efetiva na pasta.
Ensino à distância
Sem orientação e apoio vindo da presidência, estados e municípios buscaram soluções de forma individual. O ensino à distância foi uma estratégia aplicada sobretudo na rede privada, mas, algumas redes públicas também aderiram à modalidade. É o caso de 15 redes estaduais de educação que decidiram pela implantação no ensino médio.
A adesão das práticas virtuais no ensino médio chegou a abarcar 57% dos cerca de 7,4 milhões de estudantes (incluindo as escolas privadas). O caso dos estudantes dessa fase, principalmente do último ano do ensino, é mais delicado em razão da proximidade com as datas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares. Motivo que mobilizou governadores de todo o Brasil a procurarem saídas.
Apesar disso, os governos têm percebido baixa adesão dos estudantes ao ensino à distância. Levantamento divulgado pelas secretarias de educação dos estados revelam a realidade. Em São Paulo, mais da metade dos alunos não vêm acessando as aulas; no Espírito Santo e no Acre, 30% dos estudantes. Aqui em Pernambuco, 25% dos estudantes não vêm acessando às aulas.
Dificuldades do ensino à distância
São diversos os fatores que levam o estudante a não conseguir acompanhar as aulas à distância. A falta de acesso à internet de qualidade é uma das questões que impedem a completa adesão aos programas remotos, mesmo que muitos estados tenham utilizado a televisão como meio de transmissão das aulas, a internet é uma ferramenta importante para a complementação do ensino.
De ordem também da desigualdade social, a falta de estrutura nas residências, com lugar adequado para estudar, é outro aspecto apontado por jovens de todo o país, principalmente os que moram nas periferias. As condições precárias dos lugares afetam o rendimento do estudante na aprendizagem.
Outro fator apontado por especialistas como determinante para a evasão escolar é a situação do país. As graves crises sanitária e econômica enfrentadas têm levado estudantes a abandonarem os estudos e procurarem alguma forma de trabalho para complementar a renda familiar.
Por outro lado, a própria implementação dos modelos remotos, no sentido mais prático, ainda é deficiente. A forma que as aulas são conduzidas presencialmente não funcionam da mesma forma no ensino remoto, fator que não é muitas vezes levado em consideração na gestão dos projetos ao redor do Brasil.
A pesquisa feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (Gestrado/UFMG) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) comprova a realidade. Dos profissionais entrevistados, 89% não tinham experiência com aulas remotas antes da pandemia e 42% deles seguem sem receber treinamento sobre as práticas.
Paulista/PE: falta de políticas públicas
As limitações ainda podem ser muito maiores. Sem ensino remoto de nenhuma forma, os 15 mil estudantes da rede pública de Paulista/PE enfrentam dificuldades na manutenção da aprendizagem. A solução encontrada pela gestão municipal foi a distribuição de kits de atividades das disciplinas de português e matemática, por meio de questionário online ou impresso para aqueles que não tem acesso à internet.
O contato professor-aluno, no entanto, foi descontinuado. Não fica claro como os profissionais fazem parte do aprendizado dos estudantes nessas atividades. A única forma de interação com os docentes é por meio de um canal audiovisual da Secretaria de Educação que publica alguns vídeos sobre conteúdos da grade curricular apresentados pelos professores, ainda sim de forma muito limitada.
“Temos um universo de crianças de Paulista/PE, desde os primeiros anos escolares até o ensino fundamental, afetadas pela falta de políticas para manutenção da educação. Seis meses se passaram e as medidas permaneceram as mesmas, com um déficit enorme de metodologias que garantisse a aprendizagem. Vemos muitos estados querendo abrir as escolas, mas Paulista não resolveu nem os problemas iniciais”, disse Fábio Barros.
Além disso, Paulista/PE enfrenta uma fase difícil na administração da cidade. Após o afastamento do prefeito Júnior Matuto no último dia 21 de julho, em razão de suspeitas de corrupção, a gestão que assumiu não divulgou quais políticas estão sendo realizadas na cidade, tanto na área da educação quanto nas demais. A retomada do prefeito na última semana também não garante estabilidade, pelo contrário, a população demonstra desconfiança na gestão.
Enquanto isso, o Governo de Pernambuco segue um plano de reabertura que deve alcançar as instituições de ensino nas próximas semanas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma série de medidas de saúde e segurança para garantir a não transmissão do novo coronavírus nos ambientes escolares. Resta saber agora se a cidade terá condições de retomar as aulas e cumprir as determinações.