Muito tem se falado sobre a necessidade de achatamento da curva de contágio por coronavírus e isto tem sido ignorado por muitos, seja por ignorância, seja por questões ideológicas. O fato é que a busca pelo achatamento da curva, a partir das medidas de isolamento social, é exatamente para evitar uma leva de contágio muito grande, em um intervalo de tempo pequeno, para que não tenhamos um número de doentes que necessitem de UTI’s (Unidade de Terapia Intensiva), maior do que a quantidade de UTI’s disponíveis. Por isso as medidas de isolamento são imprescindíveis.
Mas, infelizmente, já estamos no limite do sistema de saúde, no nosso estado.
No último domingo, dia 19 de abril, em matéria veiculada no Fantástico, vimos que havíamos chegado a 95% de nossa capacidade de UTI’s, no estado de Pernambuco. Ontem, 20 de abril, o secretário de saúde de Pernambuco, André Longo, afirmou em coletiva online de imprensa, que já chegamos a 99% de ocupação dos leitos de UTI’s, da rede pública, que é onde são tratados os casos mais graves da covid-19. Isso implica dizer que, a partir de agora, qualquer caso que demande um leito em UTI, terá que esperar. Ou seja, quem precisar de UTI – por estar em estado grave – muito provavelmente irá morrer ou em casa, ou na fila de um hospital, pois não haverá vagas.
Contudo, desde o início das medidas de isolamento e com todos os alertas sobre a necessidade de achatamento da curva, para evitar o colapso do sistema de saúde, temos visto uma grande quantidade de pessoas que tem minimizado os riscos da pandemia, em sua grande maioria, estimuladas pelo presidente da república, Jair Bolsonaro, que, desde o seu “histórico” discurso negacionista no dia 23 de março, vem, insistentemente, criando as condições para o contágio acelerado por coronavírus.
Ao estimular carreatas, aglomerações e ao sair às ruas, Bolsonaro vai de encontro a todas as recomendações do próprio Ministério da Saúde, além, é claro, de contrariar tudo que a Organização Mundial da Saúde (OMS), comunidade científica internacional e líderes das maiores nações do mundo, têm adotado como medidas preventivas e de preservação da vida. Bolsonaro insiste em minimizar os riscos da pandemia, seja por vaidade, como ficou claro ao demitir o ex-ministro Henrique Mandetta, por seguir as orientações da comunidade científica e OMS, seja por crueldade, quando estimula – deliberadamente – os seus seguidores para um possível encontro com a morte. E isso, infelizmente, tem contribuído para a antecipação do colapso do sistema de saúde.
Há algumas semanas, vimos – da pior maneira possível – o que significa um sistema de saúde em colapso, na Itália, Espanha e estamos vendo, agora, nos EUA, que é o atual epicentro da pandemia no mundo, com mais de 42 mil mortos e 798 mil casos confirmados, no país – até o momento desta matéria. O maior problema de um sistema de saúde em colapso é que ele vai acarretar em mortes por covid-19 e em mortes que não tem nenhuma relação direta com a covid-19, como por exemplo, alguém que precise de uma UTI por ter sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral), ou alguém que sofreu acidente de trânsito e precisa de tratamento intensivo, que só pode ser encontrado nas UTI’s, que estarão ocupadas. O colapso do sistema de saúde é a maior razão das medidas de distanciamento social e, portanto, o que vinha se buscando evitar com o achatamento da curva de contágio.
Agora, nos resta, com o mínimo de responsabilidade – e condições – que temos, intensificar as medidas de isolamento e higienização, na esperança de que os casos não sigam aumentando exponencialmente. Afinal, se os EUA, com a quantidade de casos que tem, e que ainda não saturou completamente o seu sistema de saúde, já chegou a mais de 42 mil mortes, o que poderemos esperar do Brasil, que agora conta com mais de 40 mil infectados e mais de 2.500 mortes? E Pernambuco que, com pouco mais de 2.690 casos confirmados e 234 óbitos, mesmo não tendo chegado ao pico do contágio, já está com sistema de saúde no seu limite, com 99% dos leitos de UTI ocupados?!
O colapso do sistema de saúde é eminente. Fé e força para os dias que virão! É o que nos resta!