O Brasil atingiu neste sábado (8) a marca de mais de 100 mil mortos por coronavírus, mais precisamente 100.240. Quase 150 dias desde a primeira morte, registrada em 17 de março, o governo brasileiro encontra-se sem ministro da Saúde e sem qualquer indício de políticas efetivas para a contenção do vírus e para a diminuição das mortes no país. Pelo contrário, as ações do presidente, desde o início, minimizam a dimensão do problema.
Em live da última quinta-feira (6), quando perguntado sobre a marca das 100 mil mortes, o presidente disse que era preciso “tocar a vida” e buscar uma forma de “se safar” do problema. Bolsonaro disse ainda que não tinha o que fazer para diminuir a transmissão e conter o número de mortos.
Enquanto isso, o país continua localizado no epicentro da pandemia no mundo, a América do Sul. Ao redor, outros países do continente também apresentam uma tendência de crescimento da Covid-19, no entanto, nenhum deles se aproxima em números reais da situação do Brasil.
Argentina: o que acontece no país vizinho?
O caso da Argentina, por exemplo, com uma população de 44,49 milhões, ⅕ da população do Brasil (mais de 211 milhões de habitantes, segundo estimativa do site do IBGE), apresenta apenas 4411 mortes, número 23 vezes menor que o do Brasil.
A ação coordenada entre os governantes de uma nação já se mostrou decisiva para o controle da transmissão e do número de mortes. A Argentina se encaminha para esse patamar tendo construído e adotado medidas conjuntas em todo o país.
O pré-candidato a prefeito de Paulista/PE comenta a política à luz da situação brasileira. “Isso é exatamente o oposto do que vemos no Brasil. Não tivemos nenhuma sintonia entre estados e municípios porque o presidente ignorou a pandemia desde o início”, disse.
A comunicação oficial utilizada pelo governo argentino para transmitir informações sobre a doença para a população também foi decisiva para os números abaixos, apontam especialistas. Outras medidas eficazes foram a implementação da quarentena em todo o país, o fortalecimento do sistema de saúde e uma política rígida para o uso da máscara.
Brasil: campeão no número de mortes
O Brasil lidera no número de mortes por coronavírus no mundo. O ministério da Saúde calcula mais de 1000 mortes todos os dias. O descontrole do país frente a pandemia é explicada pela série de erros cometidos pelo governo, que descumpriu sistematicamente as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A principal diretriz apontada pelo órgão como forma de prevenção à doença foi o isolamento social. O governo federal não só não desenvolveu políticas coordenadas para determinar e garantir a quarentena para todo o país, como desencorajou a população que fizesse.
“Ficou por conta dos governos estaduais e municipais a decisão sobre a implantação das medidas de isolamento, já que não se tinha liderança nacional para isso. O resultado foi uma disparidade na situação da pandemia nos locais, além da insegurança generalizada criada na população”, comentou Fábio Barros.
Bolsonaro não só ignorou, como entrou em guerra com os governadores que agiram para conter a doença nos estados. A briga resultou ainda na demora do governo em repassar recursos importantes para políticas públicas de enfrentamento nos municípios e estados do país.
Trabalhadores afetados pelo desemprego e a crise econômica provocada pela pandemia também foram prejudicados pela morosidade do governo. O auxílio emergencial foi colocado à disposição da população quase um mês depois que o vírus foi classificado enquanto pandemia, quando os brasileiros já sofriam com os impactos.
O esvaziamento da questão foi tamanha, uma medida até mesmo institucional, que o país já não tem ministro da saúde há mais de x meses. Em meio a uma crise de saúde global, a principal área afetada não dispõe da pessoa para orientar, coordenar e supervisionar as ações de enfrentamento no país.
Sem previsão para parar
A corrida liderada pelo Brasil não tem previsão de final. Um estudo divulgado pelo Imperial College de Londres mostrou que o índice de contágio (Rt), que mede a velocidade de disseminação do vírus, é acima de 1 há mais de 14 semanas no país.
O número significa que cada pessoa infectada transmite o vírus para mais de uma pessoa e assim sucessivamente, o que resulta em num cálculo exponencial. A partir da análise do Rt é que as medidas de isolamento podem ser afrouxadas, devendo ser igual ou inferior a 1.
Muitas cidades que apresentam o índice crescente já têm acabado com algumas medidas e afrouxado o isolamento antes do tempo, quando a recomendação da OMS é a manutenção das estratégias preventivas. Nesse ritmo, é fácil prever os números que o Brasil vai continuar a marcar.